Quando a Maldade Contamina o nosso Dia a Dia
Uma tragédia familiar no Piauí nos leva a refletir sobre a perda de humanidade e a urgência de resgatar o amor e a empatia em nossa sociedade
Em uma pequena cidade do Piauí, onde o primeiro dia do ano deveria ser de celebração e esperança, uma família foi destroçada pelo mais cruel dos venenos - não apenas aquele colocado no baião de dois, mas pelo veneno invisível que corrói a alma humana. Quatro vidas foram arrancadas, incluindo duas crianças inocentes, em um ato que nos faz questionar: em que momento perdemos nossa humanidade?
A história de um padrasto que supostamente envenenou o alimento que matou seus próprios enteados nos coloca diante de um espelho social quebrado. Que nos faz refletir de que estamos vivenciando uma epidemia do colapso emocional, onde os laços familiares, que antes eram tidos como sagrados, agora são rompidos por impulsos destrutivos que revelam o profundo vazio existencial de alguns de nós.
O que torna esta tragédia ainda mais perturbadora é o que a polícia pode ter descoberto: a sua premeditação. O uso de um pesticida proibido no Brasil, demonstra um planejamento que vai além do impulso momentâneo. Mostraria a capacidade de planejar friamente o assassinato de familiares, e entre eles crianças, indica uma grave ruptura nos mecanismos cerebrais responsáveis pela empatia e pelo amor.
E vale lembrar que estamos falando da mesma família que em agosto do ano passado já havia sido abalada pela morte de duas crianças por cajus envenenados. Duas tragédias que parecem conectadas pelo mesmo fio condutor: o desprezo pela vida humana. Acho que vivemos um momento de profunda desconexão com a nossa essência humana. O individualismo e a banalização da violência parecem ter criado um terreno capaz de fazer frutificar atos de maldade egoísta e indescritíveis.
E sendo muitas vezes o detentor da comunicação me pergunto, enquanto sociedade, de que precisamos urgentemente reencontrar os valores fundamentais que nos tornam humanos, dignos de espalhar amor e compaixão. Especialistas afirmam que o caminho seria o da construção de redes de apoio e equipamentos que favoreçam a saúde mental.
Não nascemos violentos, pelo contrário nascemos dependentes de amor e atenção. A neurociência nos mostra que o cérebro humano possui uma capacidade extraordinária de transformação e deveria readaptar nossos traumas. Mas a falta do suporte emocional adequado inibe esse ressurgimento e provoca um lado obscuro carregado de maldade no nosso “eu”.
Práticas regulares de mindfulness, terapia e exercícios de empatia poderiam literalmente remodelar as conexões neurais responsáveis pelo comportamento violento. Mas por que não buscamos isso?
Em Parnaíba, uma família destruída se tornou o símbolo de uma sociedade adoecida que precisa urgentemente de cura. Até o fechamento desse texto uma pequena sobrevivente de 4 anos ainda luta pela vida em um hospital de Teresina, representa talvez, a última chance de quebrar ciclos de violência e construir um futuro diferente. Será que ainda temos salvação? Eu acredito que sim.
É hora de nos questionarmos profundamente sobre que tipo de humanidade queremos ser. Precisamos resgatar nossa capacidade de amar, de proteger e de cuidar uns dos outros. Parece piegas, mas que estas mortes não sejam em vão, que sirvam como um doloroso alerta: um antídoto para o veneno do ódio está no amor, na empatia e no cuidado mútuo. Somente através de uma profunda transformação individual e coletiva poderemos construir um mundo onde crianças possam compartilhar refeições em família sem medo de serem envenenadas por aqueles que deveriam protegê-las.
“O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons” - Martin Luther King Jr.
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