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É de Comer

Uma garfada de covid-19: alimentos contaminados com saliva podem transmitir o vírus

Cientistas da USP revelam que boca pode ser uma importante porta de entrada e de reprodução do vírus da covid-19. Alimentos infectados com carga viral podem transmitir o vírus, ao contrário do que se pensava.

É de comer|Do R7


Self-service pode ser fonte de contaminação de covid-19 se clientes e funcionários não usarem máscaras adequadas
Self-service pode ser fonte de contaminação de covid-19 se clientes e funcionários não usarem máscaras adequadas

No menu do dia: coronavírus.

Pesquisadores da USP fizeram uma descoberta importante: o coronavírus foi encontrado em quantidade expressiva nas glândulas salivares de vítimas da doença. Você pode estar pensando: o que isso tem a ver com alimentação?

Tudo e eu explico o porquê. Desde o início da pandemia, órgãos de vigilância sanitária, incluindo o CDC (Dentro de controle de doenças dos EUA) têm dito que alimentos não são fonte de contaminação pra doença. Na teoria, não são mesmo. Mas essa descoberta recente, revelada pelo estudo liderado pelo pesquisador Bruno Matuck, doutorando da Faculdade de Odontologia da USP, evidencia que o fator humano e o não-uso de máscara podem, mais uma vez, mudar o que se pensava a respeito da covid-19. A ciência indica que a boca, é sim, uma entrada importante para o coronavírus e a saliva tem um papel nisso.

A máscara, de novo ela...


Aquele chef bacana que tira a máscara no vídeo do instagram pra mostrar o prato do dia pode sim estar contaminando a refeição de alguém com coronavírus. O mesmo vale pro tio que faz o churrasquinho no restaurante da esquina e que vive com a máscara no queixo ao manipular o alimento. O que dizer, então, do self-service que mantém todas aquelas saladas expostas, com dezenas de pessoas respirando e falando com máscaras inadequadas sobre elas?

É saliva pra tudo quanto é lado, em cima do alimento que você vai comer depois. Isso já deveria ser nojento o suficiente, sem contar o coronavírus. Mas, com a pandemia, as gotículas bucais alheias ganharam uma nova perspectiva.


"Certamente, mesmo assintomático, o usuário do restaurante pode falar e derrubar gotículas de saliva sobre as superfícies. Tantos alimentos como de talheres e afins. A própria fala libera pequenas gotículas salivares. Uma vez que quem prepara os alimentos pode estar em constante comunicação com seus companheiros de trabalho, é prudente usar máscaras para evitar a contaminação dos alimentos e assim os clientes", alerta Bruno, em entrevista a esse blog.

Os pesquisadores colheram amostras em três tipos de glândulas salivares de pacientes que morreram por causa da COVID-19 no Hospital das Clínicas da USP. Bruno e seus colegas verificaram que os tecidos eram reservatórios para o novo coronavírus. O estudo foi publicado no Journal of Pathology.


Bruno e colegas em ação durante a pesquisa
Bruno e colegas em ação durante a pesquisa

"Mostramos o vírus se replicando na glândula salivar. O que prova que não é necessário ter contaminação de escarro e espirro pra ter a saliva contaminada. Isso explica a contaminação de pacientes assintomáticos. Não existe outro vírus respiratório, descrito na literatura, com essa capacidade”, revelou Bruno.

O próximo passo da pesquisa da USP é identificar o quanto essa contaminação pela saliva pode contribuir para a infecção da população de uma maneira geral.

O que fazer? Vale a velha máxima: coma em lugares que você conhece as condições de higiene e preparo dos alimentos, verifique se cozinheiros, garçons e chefs usam máscaras adequadas, principalmente ao manipular alimentos crus e ao finalizar um prato (o vírus morre em altas temperaturas, mas se alguém sem máscara falar sobre o prato durante a montagem, pode sim contaminá-lo). E evite os self-services, pelo menos por enquanto. Ainda sabemos pouco sobre essa doença e os números estão aí pra provar que a máscara é, ainda, a melhor arma contra ele.

Quer saber mais sobre gastronomia pandêmica? Me visita lá, no meu insta, o @ehdecomer

Abaixo a íntegra do artigo:

O artigo Salivary glands are a target for SARS-CoV-2: a source for saliva contamination (DOI: 10.1002/path.5679), de Bruno Fernandes Matuck, Marisa Dolhnikoff, Amaro Nunes Duarte-Neto, Gilvan Maia, Sara Costa Gomes, Daniel Isaac Sendyk, Amanda Zarpellon, Nathalia Paiva de Andrade, Renata Aparecida Monteiro, João Renato Rebello Pinho, Michele Soares Gomes-Gouvêa, Suzana COM Souza, Cristina Kanamura, Thais Mauad, Paulo Hilário Nascimento Saldiva, Paulo H Braz-Silva, Elia Garcia Caldini e Luiz Fernando Ferraz da Silva. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/path.5679

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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