Do BTS ao funk: El Capitxn fala sobre SUGA, Brasil e nova fase como artista
Em coletiva em São Paulo, DJ fala sobre música e planos para misturar K-pop com ritmo brasileiro
Música|Maria Cunha

Melhor amigo de SUGA, do BTS, o DJ e produtor sul-coreano El Capitxn desembarcou no Brasil pela primeira vez para uma série de apresentações e surpreendeu os fãs com carisma, gratidão e… português!
Em coletiva de imprensa realizada em São Paulo, ele conversou com o R7 sobre sua trajetória, os bastidores do hit Daechwita e o desejo de unir o K-pop ao ritmo contagiante do funk brasileiro.
Dos palcos aos bastidores
Segundo El Capitxn, sua passagem pelos bastidores da indústria musical transformou completamente sua visão sobre o trabalho artístico. Ele contou que, quando era apenas cantor, acreditava que tudo o que conquistava era fruto do próprio talento.
No entanto, ao começar a produzir para outros artistas, percebeu o quanto o trabalho invisível por trás das cortinas é essencial. Foi só então que reconheceu: sem essas pessoas, não existe espetáculo.
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Ao falar sobre seu processo criativo, destacou que a produção musical exige um olhar atento aos detalhes — desde timbres e silêncios até elementos mínimos que, combinados, definem o impacto emocional da música. Segundo ele, até mesmo a respiração de um artista pode alterar o rumo de uma faixa.
É nesse campo das sutilezas que ele se realiza como produtor. E embora o processo possa ser demorado, acredita que é justamente aí que está o valor do seu trabalho.
Quando questionado sobre a pressão de seguir tendências do mercado, El Capitxn foi direto: não busca esse tipo de equilíbrio. Para ele, criar apenas para agradar ao mercado torna o processo chato. O que realmente importa é colocar sua verdade nas produções — mesmo que isso não siga nenhuma fórmula.
BTS, influências e reconstrução da confiança
Trabalhar com artistas como o BTS também teve um papel decisivo em sua evolução. El Capitxn contou que foi ao perceber a intenção e a entrega de quem estava à sua frente no estúdio que recuperou a própria vontade de se expressar artisticamente.
O carinho do público pelas músicas que produz também devolveu a ele a confiança que havia perdido. Aos poucos, a vontade de se manter apenas nos bastidores deu lugar ao desejo de voltar aos palcos.

Durante a conversa, o DJ falou ainda sobre como diferencia músicas tecnicamente perfeitas daquelas que nascem do desconforto criativo. Para ele, há faixas impecáveis, que animam e entretêm. Mas as mais marcantes são compostas em momentos difíceis, carregadas de sentimento. Esse tipo de música, disse, “não entra só pelos ouvidos, entra direto no coração”.
El Capitxn ainda explicou que não tem um método fixo de criação. Às vezes começa pela melodia, outras vezes se senta ao piano e espera algo surgir. O ponto de partida pode vir até de uma conversa com outro artista ou de um som ambiente, como o clique de uma câmera.
Quando quer reforçar o clima emocional da faixa, costuma inserir elementos como chuva, vento ou o canto de passarinhos — de forma sutil. Ele acredita que o ouvinte capta esses detalhes de maneira instintiva, mesmo sem perceber.
Os bastidores de Daechwita
Ao relembrar a produção de Daechwita, de SUGA (sob o nome Agust D), El Capitxn não escondeu o desafio. Contou que foi a música mais difícil — e também a mais apaixonante — que já produziu.
Ele afirma que o processo de fundir instrumentos tradicionais coreanos com o hip hop levou muito tempo e exigiu inúmeras versões. O DJ confessa que nem lembra exatamente como chegaram ao resultado final e brinca frequentemente com SUGA sobre isso: será que conseguiriam repetir?
Música e escrita
Além da música, El Capitxn decidiu experimentar uma nova linguagem: a escrita. Passou dois anos dedicados à produção de um livro, que considera uma extensão do que faz como produtor.
De acordo com ele, embora a música provoque emoções profundas, a palavra escrita permite transmitir mensagens de forma mais clara — especialmente para quem passou por dificuldades semelhantes às que ele enfrentou como artista.
El Capitxn e o Brasil
Mesmo antes de pisar em solo brasileiro, El Capitxn revelou que já sentia uma ligação com o país. Segundo ele, vídeos de shows por aqui deixavam clara a intensidade e o entusiasmo do público.
Para o produtor, o Brasil sempre foi um “palco dos sonhos”, e a recepção calorosa nesta primeira visita só confirmou suas expectativas. Em suas palavras, é um lugar onde “o público canta mais alto e mais forte que o próprio artista”.
A relação do DJ com o Brasil, no entanto, não se resume ao palco. Ele contou que provou parmegiana pela primeira vez no país e gostou tanto que ainda pegou a do profissional que gerencia sua carreira.
Outro aspecto que chamou a atenção foi seu interesse pelo funk brasileiro. O artista disse que ainda está conhecendo o gênero, mas que já começou a produzir uma música com essa influência durante sua estadia no hotel.
Um recomeço
No fim da coletiva, El Capitxn agradeceu pela recepção calorosa e pelas inúmeras mensagens de fãs brasileiros que pediam sua vinda. Disse que considera essa oportunidade uma bênção e que, ao voltar para a Coreia, quer agradecer a SUGA pessoalmente por ter sido uma das pessoas que o ajudaram a chegar até aqui.
Com um sorriso no rosto, contou que está treinando português desde o dia anterior e já aprendeu a dizer: “um, dois, três, quatro, cinco, gritem, quinze, te amo e boa noite”.
Por fim, o DJ deixou um pedido: que o público brasileiro o apoie nessa nova fase — em que volta a ser também artista — e continue dando amor e suporte ao SUGA, seu parceiro de longa data e grande amigo de estrada.
Veja um trecho do show de El Capitxn no Brasil: