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Bye bye, Brasil

Até onde sei|Octavio Tostes

Brasileiros rumam para Portugal
Brasileiros rumam para Portugal

Um amigo meu, aposentado, está de partida para Portugal. Outra casou há pouco e se mudou. Uma terceira seguiu faz dois anos para um doutorado no Porto. “Eu era carioca. Virei tripeira. Com muito orgulho”, define-se no Facebook. Elas e ele buscam um porto seguro, com a paz e a civilidade que nos têm faltado aqui.

A impressão é a de que está todo mundo indo para Portugal, como se ouve nas conversas. De fato, um relatório do governo português constatou crescimento da população estrangeira no país em 2016, após seis anos em queda. As coisas no entanto não são como parecem.

Os brasileiros continuamos a nacionalidade mais presente, com umas 80 mil almas. Seguem-nos os cabo-verdianos, os romenos, os ucranianos e os chineses como os mais numerosos. Mas em termos percentuais o total de brazucas diminuiu, pouco mas caiu. Já entre os que mais cresceram estão os franceses, os britânicos, os espanhóis e de novo os onipresentes chineses.

A distância entre nossas percepções e a realidade, aliás, descobri graças a uma portuguesa. Éramos colegas de colégio no Rio. Ela recém-chegada de Lisboa com os pais após a Revolução dos Cravos de 1974 que pôs fim aos 42 anos da ditadura salazarista; eu vindo do interior. Numa tarde de domingo fomos ver “O Encouraçado Potemkin”, de Eisenstein, clássico do cinema soviético. Ao encontrar na fila vários conhecidos comentei o habitual “como esse mundo é pequeno”. Minha amiga, com o sotaque acentuado pela veemência dos jovens idealistas (ela era maoísta), mandou na lata: “não é o mundo que é pequeno; é o espaço social em que circulamos que é concentrado!”.


Desde então, e apesar de minhas limitações, venho desconfiando de aparências e sobretudo de versões. Neste nosso mundo cada vez mais complexo, explicações na base do simples assim e que levam a certezas definitivas - em geral preestabelecidas - me soam como ilusões. Ou falácias. Por exemplo, esta noção - tão propalada nesta hora de reformas - de que assim como numa casa não se pode gastar mais do que se ganha, também os governos têm de ajustar suas contas. Como se uma questão doméstica, de microeconomia, mensal, fosse parâmetro para problemas macroeconômicos, calculados em décadas e sujeitos a diversas variáveis.

No pequeno mundo de meus afetos, torço para que meus amigos emigrantes sejam felizes. No vasto mundo dos países conectados, da história, em meio às rajadas de pós-verdades do maremoto neoliberal destruidor de Estados-nação e de valores, da democracia à solidariedade, espero que Portugal não lhes reste apenas como jangada. A qual, sejam quais forem os ventos, os ajudarei a navegar, via Skype.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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