Confusão no Facebook
Até onde sei|Eugenio Goussinsky

O advogado tributarista a excluiu de seu facebook antes que ela continuasse a esnobar seus telefonemas. Ela, empresária de curvas e orgulho realçados, ficou indignada. Contou para seu irmão, diretor de uma multinacional, que fez questão de excluí-lo daquela rede social, como represália. Fim de uma amizade de longos anos entre ambos, o advogado e o diretor.
Mas não ficou por aí. Ofendido, o advogado contou o que aconteceu, via mensagem inbox, para a prima do diretor, uma publicitária que fora sua namorada. Ela não titubeou e, tomando as dores do antigo amor, quem sabe alimentando alguma esperança, apagou o primo de sua lista virtual.
O primo, no caso o diretor, se sentiu traído. Desabafou o ocorrido para o seu melhor amigo, um jornalista, também amigo da publicitária (prima do diretor e ex-namorada do advogado). O jornalista não teve dúvidas em dar razão ao amigo e de uma vez deletou a publicitária (agora ex-amiga) e a irmã dela, para dar realce ao seu repúdio. Esta, que entrou de gaiato, não entendeu nada. Apenas ficou possessa e exigiu que seu marido arrancasse a irmã do jornalista de seu círculo eletrônico, em represália.
A irmã do jornalista, que no início não tinha nada a ver com a história, contou que fora limada para o pai, um velho comerciante do ramo de tecidos que só agora tinha aderido à internet. Ele, com seu bigodão e seu corpo atarracado, sempre resistira à informática, temendo se mecanizar com o mundo dos tablets e i-pods.
Sua linguagem simples sempre lhe dizia que tudo aquilo é invencionice e o que vale mesmo é o olho no olho, o aperto de mão. Ainda assim, entrou na onda e clicou pelo desaparecimento (de quem mesmo?) do...amigo da filha, marido da irmã do jornalista.
O universo da tecnologia é mesmo dinâmico. Pessoas se encontram e se despedem em um clique. Tudo parece rápido, prático, o circuito dos vitoriosos. Mas no fundo um descarte de alguém no facebook também significa uma ofensa. Como era antigamente uma carta não respondida.
O ser humano continua o mesmo, apenas com outros instrumentos, mais exuberantes e tecnológicos. Quase mágicos. Quase, porque o sentimento jamais será digital. No fim, quem se deu mal foi o pobre senhor, comerciante das antigas e pai exemplar. Justo ele, tão resistente à nova era.Perdeu a causa em um processo que movia há anos para recuperar uma venda bloqueada pela Receita. Quando foi ver, o excluído de seu face era ninguém menos do que o advogado tributarista, seu defensor. Este mundo virtual é mesmo muito pequeno...