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Eu, samoano II - A iniciação 

Até onde sei|Octavio Tostes

Estava no outside da Praia da Fazenda, litoral norte de São Paulo, com o Sellmann, instrutor da Pitasi Sup Trip, e ele pilhou:

— Vai!

Remei, a long embalou, subi e meio no susto, dropei uma direita de meio metrinho. João, o fotógrafo, vibrou:

— Cara, você entrou nela antes espumar. Iraado, bróder.


Foi minha melhor onda, um ano depois de tentar aprender a surfar. O início, na mesma Fazenda, contei na crônica “Eu, samoano”. O título foi sugestão do Irb, amigo a quem mostro os textos antes de publicar, assim como para a Sheila. Tinha auto ironia, citação de Drummond, sacada meio no susto de que surfar aos 56 anos, obeso, seria tão difícil quanto fazer doutorado e o suspiro de que entanto tentaria.

Em janeiro a alegria pelo título de Medina e a decepção por um mau dia de surfe deram o mote de “Impressões de aprendiz”, voto de feliz 2015. “Caldos de Itacaré” falou em fevereiro das dores na lombar e na perna direita ao fim de cada aula. Consolei-me com exemplos de alunos de mais de 60 anos da escolinha de Santos - seu Francisco e a coluna lesionada, d. Regina e o câncer de mama -, descritos em “Surfe da terceira idade”.


Comecei um treino funcional com Ricardo, personal trainer, para aumentar flexibilidade, perder peso e fortalecer. Como as dores persistissem, fui à dra. Isabel, fisiatra. Ela diagnosticou retrolistese, osteoartrose e estenose, receitou remédios e procedimentos. Elogiou o preparo físico, disse que eu poderia surfar sem piruetas radicais e concluiu: “o surfe veio para te salvar”.

“Huumm…”, comentou Marina, a namorada, quando contei a consulta. O minueto de surfe e namoro, toquei em “Nossa canção”. Ainda não tinha virado crônica o dia em que, instado por Cisco - o mestre -, mostrei a subida na prancha. Tentei uma, duas vezes até conseguir. Com água pela cintura, ele me abraçou:


— Parabéns.

Apontou o sol, a lua e disse:

— Agora, vai lá para o outside e contempla.

— Quero aprender a dropar, Cisco.

— Calma. Usa o seu talento - digitou no ar como se escrevesse - para fazer o bem. Essa é a essência do nosso esporte.

Desde esta iniciação, todo mês surfo dez dias e faço oito sessões de funcional. As dores passaram. Comentei com Renato, o terapeuta, que depois de subir na prancha, toda evolução - pegar a onda na parede, manobrar - parece muito mais difícil.

— É. Mas antes, seria impossível.

A meta agora é controlar a prancha no pé. E usar o jogo de cintura dos ombros para dirigi-la. Quanto às crônicas, pesquisando para escrever minha primeira orelha de livro, descobri em um artigo do jornalista e escritor José Castello que para Cortázar, escrever é flutuar. 

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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