Logo R7.com
Logo do PlayPlus
R7 Entretenimento – Música, famosos, TV, cinema, séries e mais

Papo de esquina 

Até onde sei|Octavio Tostes

Para José Maria de Aquino 

De novo. Peguei na portaria o envelope pardo com os exemplares do “Liberdade de Expressão”, jornal de Miracema (RJ). Enquanto esperava o elevador, virei o envelope e encontrei o bilhete da Duca, veterana funcionária dos Correios. “Adorei o cartão da d. Gilda!”.

Na crônica “Presente”, de julho do ano passado, falei da emoção ao descobrir, no anverso do envelope, o primeiro bilhete dela elogiando meus escritinhos. Comentei com minha irmã Isabel que sorriu e disse com carinho conterrâneo: “só em Miracema”.

A crônica dedicada a ela, Duca agradeceu em um aerograma. Depois mandou um “abraços” no canto de outro envelope. Em dezembro acrescentei um P.S. à crônica “Feliz Natal”, desejando-lhe boas festas. Este bilhete de agora não foi a rigor uma surpresa. Era esperado na voz silenciosa com que a gente fala para a gente mesmo: será?


Por um instante, nossa troca de bilhetes e recados pareceu a conversa boa que se tem quando se topa com um conhecido na esquina de uma cidade do interior feito Miracema. Ao cumprimento, segue-se a pergunta sobre os parentes e o comentário de um assunto da hora.

Isso ainda acontece? Ou Miracema já entrou na correria que faz os minutos galoparem nos ponteiros, se dissolverem das telas? Há muito longe da terrinha - como o jornalista José Maria de Aquino se refere à cidade que o deu à luz e me acolheu ainda criança de colo - guardo-a como foi para mim em certo momento; em geral, sendo passado, um tempo feliz.


Por isso revisitar traz também, ao lado da alegria de reencontrar conhecidos e reviver sabores e aromas, uma ponta de tristeza. Descobrir que uma loja fechou, uma casa foi ao chão para dar lugar a outra, imprevista. Ou, pior, deixou só o vazio. O tempo não para mesmo como disse aquele garoto que virou ídolo e nostalgia.

Essa dor no entanto tem um lado bom. Após o espanto, mostra as coisas como são, independente da nossa vontade ou lembranças. Já disse que Miracema é por assim dizer um retrato 3 x 4 - daqueles que seu Schueller tirava - do Brasil do último meio século. Cresceu, se amontoou convulsa.


O pessoal que se mudou da roça para os morros padece a mesma sorte dos nordestinos que foram para o Rio e São Paulo e dos gaúchos, catarinas e paranaenses que se embrenharam na beirada da Amazônia. Até nas notícias que nos atingem com balas perdidas, a terrinha do meu caro Zé está cada vez mais parecida com o país de todos nós. Na agonia e nos desafios.

Tchau, Duca. Até amanhã.

Ah, Mamãe mandou dizer que adorou saber que você gostou do cartão.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.