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Sangue de Coca-Cola

Até onde sei|Carmen Farão

Este é o nome do primeiro livro que li de Roberto Drummond. Uma viagem lisérgica entre antros e meandros da ditadura militar vivida no século passado. E me pergunto: o que quer dizer “pátria educadora”?

Quem é este rapaz? O que ele está falando? E essas mulheres que acabaram de alcançar os enta, do que se trata? Homens barrigudos passando em série sobre duas rodas gigantescas, barulhentas em seus casacos de couro na autoestrada. Todos têm cabelos brancos. Ou negros demais. Acajú demais. Quem são esses moleques que dormem nos bancos preferenciais? Bancos? Onde está o dinheiro? O gato de Alice comeu. No buraco fundo, fundo onde se toma um chá e outro ou outro chá que nos devolve a bestialidade ou nos renova o espírito.

O que antes era privilégio político, hoje é sacrilégio social. Todos transformam o dito pelo não dito. O não dito se torna verdade, verdade usada para o interesse da vez, que pode mudar para o desdito e voltar como era antes no inferno de Dante.

Leio história da humanidade e descubro que Nero não ateou fogo em Roma, nem tampouco tocou lira enquanto via a cidade em chamas manguaçado de vinho e pedrinhas imperiais. Descubro que ele nem estava lá. Descubro que, para expulsar inquilinos indesejáveis, locatários costumavam incendiar a casa. Sua própria casa, que, de madeira e feno, era fácil reconstruir. Numa dessas, o fogo se alastrou e lambeu toda Roma com a velocidade dos ventos a favor. E Nero não estava lá.


Mas é tão mais dramático e humanamente desejável que um louco imperador, entediado resolvesse agitar a vida monótona incendiando seu império e ouvindo gritos desesperados vindo das labaredas gigantescas enquanto cantava e tocava lira...!

Isso, somos nós. A história ensinou estratégias que são usadas até hoje. Pequenos Neros e seus coquetéis molotov retratados pelas TV’s rachando ao meio opiniões, oprimindo movimentos pacíficos, desanimando quem tanto acreditou numa reação.


Mortes! Tiros! Infâmia! Não, o povo não aceitará! O povo voltou às ruas! E o povo não sabe sequer o que aconteceu no dia 15 de Novembro. Revoltados – com razão – pedem o que a ignorância dos fatos lhes cochicha ao ouvido – sem razão. O povo quer viver. Na Pátria Educadora, não sabemos o nome do nosso primeiro presidente Republicano. Sequer a diferença entre regimes. Saem às ruas de peito inflado e me pergunto com orgulho de quê? Se a agressão é a cabeça maior dessa Medusa em que se transformou as manifestações de rua?

Assisti a um vídeo onde uma mulher tenta conversar com manifestantes que baixam o calão, e mulher tem que ser protegida por policiais. Mulher igual ao povo que estava lá protestando sem saber o que. Foi xingada de todos os nomes feitos e impróprios ditos numa partida ardente de futebol. Fiquei com vergonha. Queria entrar na tela, salvar aquela consciência entre tantos cegos no castelo. Intolerantes, mal educados, será difícil perceber que é desse jeitinho mesmo que nos transformamos em massa de manobra, cada hora de um lado do cabo de guerra. Quando a palavra deveria ser paz. Já que existem tantos estrategistas agindo sobre nossa honra.

Mais respeito. Menos ingenuidade. Mais cultura, Mais interesse. Mais amor, por favor.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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