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Viagem de metrô

Até onde sei|Eugenio Goussinsky

Dois corpos não ocupam

O mesmo lugar no espaço

A não ser que seja

Em ato de amor ou abraço


De resto viajam lado a lado

Muitas vezes a escutar


O coração alheio que bate sem parar

A locomotiva no ritmo do viajante


O apressado reclama da lentidão

O desencanado se sente num avião

Cada um vai no seu tempo

Exilado em seu momento

À espera da estação

Instantes de reflexão

Solitários, igualitários

Quânticos, imaginários

Que mudam itinerários

Desenham um destino

Se por lá tiver alguém

Lendo Fernando Sabino

Desinteressado até da etiqueta

No mundo em trânsito, o executivo e o poeta

E o homem com roupa do estacionamento

Em frente a um engravatado, vaidoso e ciumento

Do lado de um sem-teto à procura de sustento

Na frente da enfermeira cansada de ouvir lamento

Então vem a brecada e todos vão e vem

Até que alguém pergunta o que houve com o trem

A voz do alto-falante não convence ninguém

Que papo é esse de reparo, cheio de nhém-nhém-nhém?

Que o povo tem de aceitar com pose de formal

Tudo que é argumento, até o mais banal

Não tem regras de etiqueta mas sim de compostura

Um silêncio que reprime beirando a tortura

Ninguém se rebela, ninguém dá um grito

A realidade afinal é mais forte

Pra quê arranjar atrito?

Viagem nas entranhas das ruas

Em que faces desconhecidas

Parecem estar nuas

Inspiram camaradagem

Enviam alguma mensagem

Até a porta se abrir

E a senhora na multidão se diluir

Já o estudante, de olho fechado

Não vê a moça que teria amado

Ela fica bem distante

Da serpente itinerante

Na velocidade do vento

Carregando sentimentos

Lembranças e pensamentos

Em flashes de esquecimento

Em pleno movimento

No túnel, lá dentro

Paira um universo de nuances

Vidas se cruzam em relances

Amizades surgem aos milhares

Sem palavras, apenas olhares

Sem continuidade, mas milenares

Por submundos contemporâneos

Homens e seus espectros espontâneos

Estrangeiros ou conterrâneos

Eternos e instantâneos

Interligados por estações

Os passageiros e as soluções

No caminho de sensações

Às vezes, urgghhh, de forma estática

Mas sempre democrática

Desafiando a filosofia socrática

Tornando a física caduca

Quando o pessoal se cutuca

Na rotina um tanto maluca

Ocupando o mesmo lugar

No espaço e na muvuca

Dia a dia, passo a passo

Pelo menos a convivência

Na falta de um abraço

A procura de um afeto

Nos trilhos desta jornada

Sem saída nem chegada

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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