Clássicos: George Harrison “Cloud Nine”
Após um longo hiato em sua carreira musical, o brilhante décimo primeiro álbum solo do ex-Beatle, marcou seu retorno triunfal ao mainstream
Toque Toque|LEO VON, do R7
Quando pensamos em George Harrison fora dos Beatles, geralmente lembramos de “My Sweet Lord” e de “All Things Must Pass”, seu primeiro lançamento após a separação da banda. “All Things Must Pass” é considerado por muitos, o melhor trabalho musical de um ex-Beatle. Todas aquelas composições guardadas que não tiveram vez diante a concorrência quase desleal com Lennon/McCartney na escolha de repertório dos Beatles, finalmente tiveram sua chance. Com tanto material, foi necessário cortar um Álbum Triplo. Mas por mais genial e celebrado que seja, meu disco preferido sempre foi “Cloud Nine”.
A sonoridade mistura Pop, Blues, Psicodelia e Rock’n Roll, passando por nuances sombrias e alegres. As guitarras de George em dueto com Eric Clapton, o ritmo de Ringo Starr, o piano de Elton John sob a direção de Jeff Lynne, entregam um direcionamento moderno (para os anos 80) em canções dignas de um álbum dos Beatles.
Desiludido com a indústria musical após o fracasso de “Gone Troppo” de ‘82, resolveu dar um tempo em sua carreira musical e passou a dedicar seu tempo à produção de filmes e outras “aventuras” que nem sempre deram certo. Fez uma música ou outra para caridades e projetos como para o filme “Porky’s Revenge!”, mas ficou relativamente quieto musicalmente.
Só que foi impossível se manter afastado daquilo que sabe fazer melhor.
De Volta ao Estúdio
No final de 1986 já estava com aquele ímpeto de fazer música novamente. Entrou em contato com Jeff Lynne ex-integrante da banda Electric Light Orchestra para co-produzir o que seria seu próximo lançamento fonográfico depois de 5 anos. Para quem não sabe, a banda ELO foi chamada por John Lennon de “The sons of Beatles” (os filhos dos Beatles), que declaradamente diziam ter o objetivo de continuar onde os Beatles pararam. Jeff Lynne sempre foi um excelente produtor além de multi-instrumentista, compositor e cantor, e se tornou grande amigo de George nos anos 70. Também trabalhou com Ringo, Paul e também produziu o “retorno” dos Beatles em 1994, com “Free as a Bird” e “Real Love”. Mas o que originou todas essas parcerias foi “Cloud Nine”.
Em Janeiro de ‘87 George Harrison entrou no estúdio de sua mansão em Friar Park ao lado de seu co-produtor e deram início às gravações. Além dos dois ícones também participaram nomes como Eric Clapton, Elton John, Ringo Starr, Jim Keltner e Gary Wright.
Retorno ao Mainstream
As composições do disco foram todas assinadas por Harrison, exceto duas parcerias entre ele e Lynne, uma da dupla com Wright e a regravação de “Got My Mind Set On You”, uma música relativamente desconhecida dos anos 50 de Rudy Clark, gravada originalmente por James Ray.
Antes de sair o álbum, a versão foi lançada como single e, para a surpresa de todos, o primeiro #1 Hit de George Harrison desde 1973, marcando seu retorno ao mainstream.
“When We Was Fab” foi outro grande sucesso. Um verdadeiro tributo aos Beatles, evoca a fase psicodélica com uma brilhante produção, instrumentação e composição. No vídeo, participa também outro Beatle, Ringo Starr.
Outro tributo ao passado é a própria capa do disco, que mostra George com sua Gretsch 6128 de 1957, que comprou quando ainda vivia em Liverpool, em 1961. Klaus Voormann que estava com a guitarra em Los Angeles, devolveu ao dono original quando ele a pediu de volta. Após a restauração do instrumento, foi inevitável ser a peça central da capa de “Cloud Nine”.
Mesmo com o sucesso do disco e o retorno de George aos holofotes, não quis dar continuidade com uma turnê, fazendo somente alguns shows esporádicos e para caridade. Esse também foi o primeiro trabalho que daria origem ao supergrupo The Travelling Wilburys, com George, Jeff Lynne, Tom Petty, Bob Dylan e Roy Orbison.
George Harrison abriu e fechou sua carreira solo com chave de ouro. Se “All Things Must Pass” marcou o início, “Cloud Nine” seu último disco lançado em vida marcou um fim triunfal, imortalizado pela genialidade do “Quiet Beatle” e seus amigos.
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