‘Mickey 17′: Bong Joon-Ho mostra que não é preciso inovar para fugir do comum em 1º filme após ‘Parasita’
Após ser adiado duas vezes, ‘Mickey 17′ chega ao cinema brasileiros nesta quinta-feira (6)
Cine R7|João Acrísio*

Desde a surpreendente vitória de Parasita no Oscar de 2020, já era esperado que Hollywood e seus produtores chamassem o diretor Bong Joon-ho para encabeçar um de seus blockbusters. Cinco anos depois, Mickey 17 estreia nos cinemas nesta quinta-feira (6) sob a pressão de ser o sucessor do único longa não falado em inglês a ser premiado como Melhor Filme.
Robert Pattinson, Mark Ruffalo, produzido pela Warner Bros. com um orçamento de US$ 150 milhões e um cenário futurista de ficção cientifica: tudo em Mickey 17 grita blockbuster. Mesmo assim, Bong Joon-Ho consegue manter sua essência de filmes que abordam questões sociais e políticas, ao mesmo tempo que deixa o filme atrativo e leve com humor satírico.
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Joon-Ho transforma aquilo que seria mais um sci-fi genérico de Hollywood — com bastante tela verde e CGI — em algo similar a Matrix, Gattaca e Blade Runner, que com uma narrativa envolvente aborda pontos importantes sobre filosofia, ética e o avanço tecnológico.

A história gira entorno de uma missão privada conduzida pelo bilionário e ex-congressista americano Kenneth Marshall (Mark Ruffalo), uma mistura cômica de Donald Trump com Elon Musk, na busca por uma tripulação para colonizar o planeta gelado de Niflheim.
O que leva Mickey Barnes (Robert Pattinson), um jovem que tenta desesperadamente fugir da sua dívida feita com um agiota, a se inscrever na viagem como um “Descartável”. Mickey se transforma em uma espécie de rato de laboratório, sendo clonado constantemente após suas mortes, em prol do avanço da humanidade.

Mesmo em condições sub humanas, a vivência no espaço é um novo começo, mas tudo desanda quando, por um erro dos cientistas, dois clones passam a coexistir, Mickey 17 e Mickey 18. O que levanta o debate ético sobre o valor da vida frente aos avanços da tecnologia.
Ver o Robert Pattinson realizando dois papeis extremamente diferentes é surpreendente. Com a ajuda da trama, o ator consegue fugir dos estereótipos entregar duas versões únicas do mesmo personagem.
Não é à toa que o diretor sul-coreano Park Chan-wook (Oldboy) disse “para os membros da Academia, por favor, deem a Robert Pattinson o prêmio de Melhor Ator e o de Melhor Ator Coadjuvante. Deem ambos para ele!“.
Por um lado, o Mickey 17 enfrenta os problemas de uma forma empática, sempre evitando conflito e colocando os outros na frente de seus interesses. Já o Mickey 18 canaliza toda a sua agressividade e rebeldia querendo dar um basta em todas as humilhações que passou.

Ao interpretar um jovem comum, que encara de duas formas diferentes as adversidades da vida, Pattinson realiza um dos seus melhores trabalhos da carreira neste longa.
O cineasta usa de toda a sua criatividade para fugir da pressão em lançar um “grande próximo filme”, mostrando que nem todo filme precisa ter uma “cara de Oscar” para ser bom.

Ao mesclar os aspectos de uma ficção cientifica com uma comédia satírica original — que passaria despercebida se não fosse por ele e Robert Pattinson — o sul-coreano cria uma narrativa interessante que prende o espectador.
Mickey 17 deixa claro que não é preciso de muito para fazer um bom sci-fi, não são necessárias extensas produções de cenário, efeitos especiais e uma construção de mundo detalhada. Se há uma boa história, personagens envolventes, junto de bons atores é possível fazer uma ótima ficção científica.
*Sob supervisão de Lello Lopes