Raul Gazolla fala sobre volta aos palcos em ‘A Chorus Line’: ‘Choro todos os dias’

Mais de 40 anos após subir ao palco na primeira montagem brasileira de A Chorus Line, Raul Gazolla retorna ao musical que marcou sua estreia profissional.

Aos 70 anos, o ator vive agora Zach, o diretor da audição que conduz a trama. “Eu faço o único personagem que eu poderia fazer na idade em que eu estou, que é o diretor dessa peça. Pra mim é muito emocionante revisitar esse momento, sendo uma nova página”, resume.

Criado em 1975, o espetáculo de Michael Bennett se tornou um marco da Broadway ao dar voz aos bailarinos de coro, que, até então, ficavam à sombra das grandes estrelas.

No Brasil, chegou em 1983 e inaugurou um novo capítulo para o teatro musical. Gazolla, que até então não tinha formação em canto ou dança, foi selecionado em meio a 1.500 candidatos.

“Foi a minha escola de dança, música e interpretação. Eu só passei porque era casado com uma bailarina e comecei a fazer aulas com ela. Eu nunca vou esquecer essa experiência, foi um aprendizado maravilhoso.”

Agora, o reencontro com o espetáculo tem um sabor diferente. O ator recorda com carinho de Acácio Gonçalves, responsável por interpretar Zach na primeira montagem e já falecido.

“Se ele estivesse aqui, eu ia ligar para falar: ‘Me conte alguma coisa sobre isso’. Como nós éramos muito amigos, eu me lembro exatamente como ele fez. Ele fez brilhantemente. Eu tô fazendo de uma forma um pouco diferente, mas me espelho muito nele”, afirma.

A emoção, no entanto, não se limita à memória. Gazolla se declara tocado com a nova encenação dirigida por Bárbara Guerra.

“Ela conseguiu trazer uma linguagem atual, moderna. O espetáculo é muito dinâmico, muito energético. O final do segundo ato é muito emocionante, as pessoas vão chorar muito, porque a gente fala de vida, de dor, de perda, de situações em que a gente tem que se virar.”

Se em 1983 ele era um iniciante cheio de energia, hoje traz a bagagem de uma vida inteira. “De igual, eu não trouxe nada. Quarenta e dois anos depois, eu já tropecei muito, já caí muito. O que eu trago é experiência de vida. Minhas filhas me ensinaram o que é amor incondicional, e isso mudou completamente a minha forma de estar no mundo”, revela Raul.

Essa maturidade também o ajuda a enxergar porque A Chorus Line continua a emocionar plateias meio século após sua estreia.

“Entra ano, sai ano, entram décadas e os problemas são os mesmos. Todo mundo passa por dificuldade, pressão, em qualquer época da vida. O que muda é a roupa e a tecnologia. Por isso esse espetáculo foi sucesso 50 anos atrás e continua sendo sucesso hoje.”

Nos ensaios, Gazolla admite que se emociona diariamente. “Eu choro todos os dias, porque é muito emocionante a maneira como esse elenco coloca a alma deles em cada personagem. Eles me receberam de braços abertos, com muito carinho. Esse é o melhor elenco que eu já trabalhei.”

Quase aposentado do teatro, o ator confessa que o convite para voltar a encenar A Chorus Line o surpreendeu e o mobilizou profundamente.

“Eu estava com um projeto pronto para este ano, mas quando a Bárbara me chamou, mexeu com meu coração. Está sendo espetacular, um dos momentos mais grandiosos da minha vida”, finaliza.

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