Não fale bobagem sobre a idade dos cães dos outros
O privilégio e a responsabilidade de ver seu cāo envelhecer
Pai de Cachorro|Do R7 e Celso Zucatelli
O assunto de hoje é o envelhecimento dos nossos cães, com duas perspectivas que eu já apontei no título. Primeiro, eu quero muito dar um recado para você que conhece alguém que tem um cão idoso. Não fale bobagem, você pode perder um amigo.
O Paçoca fez 13 anos no domingo e eu já escutei coisas absurdas sobre o envelhecimento dele, como se fosse uma coisa ruim. Que bom que ele envelheceu e está aqui comigo me trazendo alegria. É minha responsabilidade garantir que ele tenha uma vida feliz até o último dia. Depois eu falo mais sobre esta minha missão.
Sobre os palpiteiros, as bobagens que eu escuto vão desde frases como “tadinho, que velhinho”; “nossa, como tá velho”; até outras mais absurdas como “tá preparado?”; “nossa, não dura muito mais, né?”. Não sei o que é pior: falar este tipo de coisa ou usar “dura” no lugar de “vive”, como se o animal fosse uma coisa.
Não vou mentir, a gente deixa passar muitas vezes, especialmente quando são pessoas próximas que falam essas bobagens por desconhecimento e não por maldade. E, justamente por isso, resolvi escrever este texto: para ajudar você a não falar este tipo de coisa.
Entenda que ninguém melhor do que os pais de pets idosos para saber as complicações de saúde que enfrentamos nesta fase da vida deles e os cuidados que devemos ter. Então, de verdade, a opinião dos outros sobre a idade deles e o futuro não ajuda em nada.
Uma das coisas mais absurdas que eu vivi foi outro dia na maquiagem da TV. Uma pessoa que eu não conheço, que acompanhava um convidado, me viu com o Paçoca e veio conversar. Como eu sempre faço, falei com ela com todo o carinho e ela começou:
— Quantos anos ele tem?
— Tem 12.
— Nossa, tudo isso?
— É, mas ele tá super bem. A gente faz o possível e o impossível para ele estar sempre bem, com fisioterapia, ozonioterapia e todos os acompanhamentos veterinários.
— Sei, mas a minha tinha 12 também, estava ótima e, do nada, morreu.
Sério, minha vontade era mandar a pessoa para aquele lugar, coisa que eu não faria, claro, mas que também foi evitada pela interferência de um amigo querido, que estava na sala e também é pai de cachorro idoso.
Nesta hora, ele disse: "mas estas coisas a gente não compara e o importante é que eles sejam felizes… Zuca, te chamaram na produção, você pode dar um pulo lá agora?" E, assim, ele me tirou daquela situação absolutamente constrangedora e desnecessária.
Então, mesmo, não fale bobagem sobre a idade dos cães do outros, combinado? Respeite os sentimentos de quem já busca forças para enfrentar esta fase.
Agora, vamos à segunda parte deste papo. Cuidar de um cão idoso é um desafio que exige muita dedicação, algumas vezes gastos que não são pequenos e, principalmente, muito amor.
No primeiro time de quem tem esta missão, estamos nós que tivemos o privilégio de acompanhar o envelhecimento dos nossos cães. Eles cresceram com os nossos filhos humanos ou foram nossos únicos filhos e saber que eles vão nos deixar antes do que gostaríamos não é fácil e nossa luta é para eles tenham a melhor vida sempre.
Eu perdi uma cadelinha durante a pandemia, minha amada Tapioca, que nos deixou com pouco menos de seis anos, cedo demais. É importante vocês saberem que nós trouxemos esta menina maravilhosa pra casa sabendo que ela tinha uma saúde frágil e que seria um desafio, mas quem liga pra isso quando sua filha te escolhe?
Fizemos de tudo, das mais complexas cirurgias até os tratamentos mais modernos. Tudo que havia para salvar a vida dela, nós tentamos. Para ser bem honesto, o que eu mais queria era impedir que ela sofresse, não consegui.
Em outro texto, eu prometo falar mais sobre isso, mas estou entrando rapidamente neste tema para lembrar que eu gostaria muito mesmo que ela estivesse aqui, envelhecendo comigo.
Valorize esta oportunidade, jamais abandone um cão idoso. Outro dia, um amigo protetor postou dois cães, um de 8 e outro de 10 anos, que foram levados pelo "tutor" para eutanásia sem qualquer problema grave de saúde, apenas pela idade.
Como alguém é capaz de fazer isso? Aquele ser te dá o melhor dele a vida toda e, quando ele mais precisa de você, não serve mais? Triste, cruel.
Mas, por outro lado, recebo diversas histórias de pessoas que adotam cães idosos. Este é um amor que merece os nossos aplausos. Quem faz isso é realmente especial porque sabe que não terá todo o tempo que gostaria ao lado deles, mas vai oferecer a melhor vida naqueles anos que prometem ser os melhores para estes caras, lembrando que muitos deles passaram a vida inteira em abrigos.
Seja acompanhando a vida toda deles ou apenas a velhice, faça o seu melhor. É claro que os gastos podem ser grandes e a gente sabe que nem todo mundo pode oferecer tudo que seria o ideal para um envelhecimento confortável, assim como acontece com os humanos.
Se não tiver como pagar, busque os hospitais veterinários públicos que já existem em alguns lugares do Brasil, pesquise os tratamentos, medicamentos, suplementos e terapias disponíveis, tudo o que for possível, mas, principalmente, não abandone, não largue na rua, não faça isso.
Você é coisa mais importante para estes caras que deram tudo o que eles tinham para te agradar, numa dedicação que nós, humanos, jamais seremos capazes de entender. Então, faça o mais importante: esteja ao lado deles até o fim. Amor é o que eles merecem.
Viva os nossos velhinhos.
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