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Pai de cachorro

‘Alô Zucatelli, é o Silvio’: o telefonema mais incrível da minha vida!

‘Nunca imaginei receber tantos elogios de alguém como ele’: Celso Zucatelli fala de como Silvio tentou convencê-lo a ir para o SBT

Pai de Cachorro|Celso ZucatelliOpens in new window

O apresentador Silvio Santos, que morreu neste sábado (17) Divulgação

O ano era 2008 e eu era correspondente da Record em Nova York. Eu estava viajando para cobrir a morte de um brasileiro em West Yarmouth, pequena cidade do estado de Massachusetts. Fazia muito frio e nevava bastante. Nossa equipe estava hospedada num dos poucos hotéis da cidade de 6 mil habitantes, aqueles típicos dos filmes americanos.

Nas primeiras horas da manhã, estávamos eu, o produtor Mário Rocha e o cinegrafista Guy Jr., no quarto que usávamos como “redação” quando meu telefone tocou e era uma ligação do Brasil.

Do outro lado da linha, uma simpática senhora se apresenta como Zilda, secretária do Silvio Santos. Ela me explica que o próprio Silvio vai me ligar da casa dele e completa com aviso cuidadoso: diz que posso ficar tranquilo porque será ele mesmo ao telefone, nada de trote ou imitador. Eu adorei esta parte, porque a voz do Sílvio é a mais imitada do Brasil e muita gente iria desconfiar de uma ligação dele.

Pois bem, eu encontro uma sala vazia do hotel porque o frio me impedia de ficar do lado de fora e, uns 30 minutos depois, a ligação mais incrível da minha vida se completa e eu começo a falar com um dos maiores comunicadores do mundo.


A conversa, a primeira de algumas que tivemos nesta negociação, foi longa e inesquecível. Eu nunca imaginei receber tantos elogios de alguém como ele.

Sem qualquer pressa, ele me explicou o que queria que eu fizesse. Me disse porque pensou em mim para aquele projeto e que já havia aprovado tudo com o Ocimar de Castro, que iria dirigir o “Olha Você”, o novo programa da emissora. E aqui eu destaco uma das coisas mais marcantes desta conversa: Silvio sabia como ninguém “quebrar objeções”, termo muito usado hoje pela turma do marketing digital.


Ele disse: “eu sei que você pode se preocupar com a possibilidade do programa acabar de uma hora para outra e, realmente, eu posso fazer isso, mas você é ótimo jornalista também e eu te coloco num telejornal, no SBT Brasil ou em outro, porque fora do ar você não fica, eu garanto.”

Um cara genial, gentil, direto, honesto.


Eu expliquei que estava longe de casa fazendo uma reportagem, que voltaria para Nova York em dois dias, falaria com a minha família e daria uma resposta.

O que vem na sequência desta história mostra mais um pouco da incrível inteligência do Silvio.

Eu só contei para uma pessoa sobre este telefonema: minha mulher, a Ana, que não gostava de morar em Nova York e queria voltar para o Brasil. Ou seja, para ela, teoricamente, aquele convite incrível seria uma solução perfeita.

No dia seguinte, enquanto eu seguia para a última entrevista da reportagem em Boston, a história vazou no Brasil porque alguém contou que seria eu o apresentador do novo programa. O meu telefone começou a tocar sem parar com colegas jornalistas e meu chefe querendo saber se aquilo era mesmo verdade.

Agora, atenção mais uma vez para este detalhe: o Silvio sabia que eu levaria dois dias para voltar. Mas, claro, não esperou: ligou para o telefone fixo do meu apartamento em Nova York (que quase ninguém tinha o número) e a Ana atendeu. Aliás, ela interpretando as reações que teve ao ouvir a voz do Silvio ao telefone é uma das melhores cenas da nossa vida (qualquer dia gravo um vídeo dela contando, é maravilhoso).

A primeira coisa que Ana disse é que eu só voltaria no dia seguinte e ele respondeu que já sabia e queria mesmo falar com ela porque uma decisão desta importância envolvendo mudança de emprego e de país precisaria ser tomada pela família. Conhecedor dos perrengues da vida nos Estados Unidos sem alguns confortos com os quais nos acostumamos no Brasil, usou e abusou dos melhores argumentos para ganhar uma aliada para me convencer.

Por uma série de motivos, a minha decisão foi ficar na RECORD e terminar a missão que eu havia assumido de cobrir a eleição do Barack Obama até o fim e não me arrependo nada disso porque deu tudo muito certo. E tudo bem.

Convites acontecem e nós devemos tomar as decisões que entendemos que serão as melhores para as nossas vidas. O fato é que, com muito amor e admiração, eu posso dizer que o contato com este gênio foi transformador na minha vida, pela simples chance de ser notado por ele, mas também pelas oportunidades que aquele convite criou para mim. Muita coisa boa aconteceu comigo por conta daquela ligação e eu jamais vou me esquecer.

Obrigado, Silvio, por fazer parte da minha história de maneira tão especial.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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