Logo R7.com
Logo do PlayPlus
DiFato Tudo Importa

O amarelo para um setembro de respeito à vida

Mês de prevenção ao suicídio merece ser mais valorizado pela sociedade

DiFato Tudo Importa|Dionisio FreitasOpens in new window

Setembro é o mês de prevenção ao suicídio Reprodução/Arquivo P

“É uma sensação de impotência, um vazio inexplicável e uma vontade intensa em sumir. É uma dor diferente, você não sabe como começou e nem como acabar com ela…. Você acha que não consegue mais viver“. Esse é o depoimento de uma mulher, de 32 anos, que não identificarei. É o relato de quem luta contra a depressão. “Tem dias que você acorda pensando em acabar com sua vida”, completa a empresária.

Lendo isso, fico pensando no quanto o setembro amarelo é importante. E, infelizmente, pouco valorizado (mesmo na mídia, a importância passa despercebida para uma grande maioria).

Por que é preciso intensificar esse alerta?

O Brasil passa por um aumento preocupante nas internações por lesões autoprovocadas. E muitas delas terminam em suicídio. Com base em dados de 2023, foram registrados 11.502 casos, o que representa uma média de 31 internações por dia. Esse número é mais de 25% superior ao registrado em 2014, quando 9.173 casos foram registrados. Os dados foram divulgados na semana passada pela Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede), e destacam uma tendência alarmante.


E esse números não estão distantes de nossas famílias. Se olhamos para os estados brasileiros, a situação se torna ainda mais complexa e abrangente. Alagoas aparece no topo do ranking de crescimento percentual dos casos, com um aumento de 89% nas internações de 2022 para 2023, de 18 para 34 casos. A Paraíba e o Rio de Janeiro aparecem com aumentos de 71% e 43%, respectivamente. Em São Paulo e Minas Gerais, apesar do alto índice populacional, registraram aumentos de 5% e 2%.

A faixa etária mais afetada por esse fenômeno é a de jovens adultos e adolescentes. O grupo de 20 a 29 anos liderou as estatísticas com 2.954 internações, seguido pelo grupo de 15 a 19 anos, com 1.310 casos. Esses números sublinham a vulnerabilidade dessa parcela da população. E muitas vezes os transtornos começam com problemas financeiros.


Roberto Andrade é gestor de negócios e aceitou dar entrevista apenas sem a divulgação de fotos e do local onde trabalha. Há dois anos passou por uma crise financeira na família, o casamento acabou e diante disso enfrentou o diagnóstico da depressão.

“Eu não sabia o que fazer, nem tinha coragem para sair de casa. Meu nome estava no Serasa e eu não tinha como quitar. Achava que a morte era o único caminho. Um amigo percebeu o que se passava e me levou para um acompanhamento psicológico e um aconselhamento espiritual. O que me salvou foi o olhar atento de quem estava perto de mim”, revela.


Além disso, o aumento das internações entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos é preocupante, com 601 registros em 2023, quase o dobro do observado em 2011.

O impacto do suicídio vai além do indivíduo, afetando também o corpo social ao qual ele pertence, como a família, o ambiente de trabalho ou a escola. Essa questão se torna, portanto, uma preocupação de saúde pública. É crucial identificar os fatores de risco e proteção para desenvolver intervenções preventivas eficazes. A saúde pública precisa olhar para o cenário em que o suicídio ocorre e trabalhar para mitigar esses riscos.

Mas é preciso lembrar que além da política pública é preciso também desenvolver o olhar interpessoal para entender a dor do próximo, e muitas vezes a sua própria angústia. É diminuir os escapes e os gatilhos.

Por que buscar ajuda de um psicólogo antes de adoecer?

Bárbara Hollanda, psicóloga Reprodução/Arquivo P

É sempre importante salientar que o ser humano é dotado de mente, corpo e espírito. Essas instâncias trabalham em conjunto e são elas que nos revelam como está nosso interior de forma geral. Porém, na maioria das vezes, há uma dificuldade de se conectar com essas partes nossas e isso resulta no adoecimento, na “quebra do Eu”.

“Quando se fala em saúde mental, vive-se a era da ansiedade patológica e da depressão e, por outro lado, o aprendizado que a humanidade tem experienciado diante dessa problemática. Praticar o autoconhecimento, aprender a compreender o que se está pensando e sentindo e superar o mal-estar que ambas as condições causam, demanda o trabalho de prevenção. Assim, diminui-se bastante o fato de ser surpreendido por sintomas moderados e graves de ansiedade e depressão ou outras doenças, ou condições”, afirma a psicóloga Bárbara Hollanda.

Diante desse cenário, é fundamental que a sociedade como um todo se mobilize para enfrentar essa questão. Campanhas de conscientização, apoio psicológico acessível e ações eficazes e essenciais para reverter essa tendência. O aumento das internações por lesões autoprovocadas é um chamado à ação, e todos nós temos um papel a desempenhar na construção de um ambiente mais seguro e acolhedor para todos.

O quanto você está contribuindo para o setembro amarelo? Quantas vezes você estendeu as mãos para ajudar ou decidiu ouvir alguém que apresenta sinais de sofrimento emocional? Não é frescura, não é “mimimi”, a depressão mata. A consciência do compartilhar essa dor e mostrar novos caminhos é a chave mais eficaz para minimizar danos que podem terminar de forma trágica.

“Dessa forma, a atitude preventiva certamente irá trazer diversos benefícios à saúde mental e emocional, pois é um investimento em si mesmo. Benefícios como: combate de sintomas moderados e graves, autoconhecimento em prática, desenvolvimento e prática de habilidades emocionais, exercícios de autorregulação emocional e autocuidado, e também do quadro do bem-estar geral. O básico bem feito é a chave para viver com bem-estar. Cuide-se, acolha-se, perdoe-se, supere-se e ame-se” afirma Hollanda.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.