‘Elio’ mostra que a Disney ainda sabe tocar o coração com histórias inéditas
Nova animação da Pixar aposta na ficção científica para falar de pertencimento, afeto e aceitação
Cine R7|Maria Cunha

Quem nunca imaginou viajar para o espaço e conhecer extraterrestres quando era criança? Esse é o ponto de partida de Elio, a nova animação da Pixar, estúdio que pertence à Disney. Mas, mais do que uma aventura intergaláctica, o filme é uma história sobre pertencimento, amizades inesperadas e a força dos laços familiares.
Aos 11 anos, Elio Solis é um garoto órfão e solitário, criado pela tia Olga, uma major da Força Aérea. Após a perda dos pais do menino, ela assume sua guarda, o que impacta diretamente seus próprios planos de se tornar astronauta. Embora Elio ame a tia e saiba que é correspondido, ele sente que Olga não o compreende de verdade.

Fascinado pelo espaço e sentindo-se deslocado no planeta em que vive, ele acaba — por acidente — vivendo o que tanto queria: ser abduzido. Mas, no melhor estilo “cuidado com o que deseja”, o menino é levado ao Comuniverso, uma espécie de “ONU galáctica”, onde é confundido com o embaixador da Terra.
A trama lembra um detalhe do universo de Lilo & Stitch, mais especificamente do longa derivado Leroy & Stitch (2006), em que Lilo também é nomeada embaixadora da Terra. A diferença é significativa: Lilo conquista esse título por mérito; Elio, por acaso. Ainda assim, o que os une é a sensação de deslocamento — e a jornada rumo ao reconhecimento e à aceitação.
Nesse contexto, a nova animação combina humor, uma série de provações pelas quais o protagonista terá de passar e cenas de ternura. Entre elas, está a amizade improvável de Elio e Glordon, uma criatura aparentemente temida, mas que se revela uma das figuras mais doces e leais da história.

A relação entre os dois dá leveza ao enredo, funciona como alívio cômico e aprofunda o tema do acolhimento mútuo. Embora o roteiro não fuja de alguns clichês de filmes de amadurecimento, a construção desse vínculo — somada ao visual vibrante da Pixar — mantém a atenção do público.

A direção de arte é um dos acertos do filme. A ambientação espacial é repleta de texturas, brilhos e formas que parecem saídas de um livro infantil de ficção científica, o que combina com o olhar sonhador do protagonista.
Já os cenários da Terra, mais neutros e contidos, ampliam o contraste entre o “mundo real” e a viagem fantástica de Elio, reforçando a sensação de deslocamento vivida por ele no início da narrativa.
Além disso, cada espécie apresentada no Comuniverso tem traços únicos e cores vibrantes, contribuindo para a construção de um universo visualmente rico e inclusivo — onde a diferença é celebrada, não ocultada.
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A direção também merece destaque: Elio é o primeiro longa dirigido por Adrian Molina na Pixar, após ter coassinado Viva – A Vida é uma Festa (2017). Inspirado por sua própria vida, ele também coescreveu o roteiro, mas precisou se afastar da direção durante a produção.
O projeto acabou se tornando o primeiro do estúdio com três cineastas no comando: além de Molina, Madeline Sharafian, que já havia colaborado com ele em Viva, e Domee Shi, vencedora do Oscar pelo curta Bao (2018) e diretora de Red: Crescer é uma Fera (2022). A união desses olhares resultou em um filme que mescla emoção, sensibilidade e um olhar afetuoso sobre a infância e as inseguranças que a acompanham.

Após anos apostando em sequências, franquias e versões live-action de seus clássicos, a Disney retoma aqui um caminho mais inventivo — o da criação original. Elio aposta na simplicidade e no ineditismo, provando que ainda há espaço para histórias novas, mesmo sem o peso de uma marca pré-existente.
O que pode impedir Elio de alcançar o impacto emocional de obras como Up: Altas Aventuras (2009) ou Divertida Mente (2015) é justamente sua estrutura narrativa mais contida e previsível. O filme emociona, sim, mas não surpreende tanto quanto poderia — seja pela construção de conflito, seja pela resolução mais apressada no terceiro ato.

Apesar disso, ao final da sessão, fica aquela sensação boa, quase nostálgica — o tal “quentinho no coração” que os clássicos da Disney e Pixar costumavam despertar. Isso porque, ainda que se passe entre galáxias, Elio fala sobre algo muito terreno: o desejo de ser visto, ouvido e acolhido. E isso, por si só, já o torna especial.
Desse modo, Elio é menos sobre viagens interplanetárias e mais sobre encontrar seu lugar no mundo — ou melhor, no universo. A jornada espacial, que se guia mais pelo coração do que pelas estrelas, cumpre seu papel: marca o retorno da Disney às histórias inéditas e prova que ainda há espaço para narrativas novas. A animação pode não ser o título mais memorável do estúdio, mas, certamente, é uma aventura que vai tocar quem já se sentiu um peixe fora d’água.
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