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Patricia Lages

Bets: nova pandemia é altamente contagiosa e financeiramente letal

Plataformas de jogos são ralos de dinheiro principalmente entre população mais pobre, porém, todos pagam a conta

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Quatro milhões de beneficiários do Bolsa Família são chefes de família que apostam nas bets Reprodução/Record Brasília

Sob a alegação de fazerem “investimentos significativos no país”, as plataformas de apostas, conhecidas como “bets”, estão fazendo exatamente o oposto: tirando muito dinheiro do bolso de todos os brasileiros, tanto de quem aposta, quanto de quem passa longe disso.

De acordo com o Banco Central, beneficiários do Bolsa Família – programa de redistribuição de renda financiado com o dinheiro do contribuinte – gastaram mais de R$ 3 bilhões em apostas somente no mês de agosto.

Quatro milhões desses beneficiários são chefes de família, mas em vez garantirem comida na mesa, decidiram torrar parte do “dinheiro grátis” doado pelo governo em apostas.


Em média, cada beneficiário do programa enviou R$ 100 em Pix para as bets, sendo que, com R$ 111,14, é possível comprar 21 itens da cesta básica, de arroz, feijão e fubá a leite integral e biscoito recheado.

Segundo Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome do Brasil, o projeto de lei que regulamenta as plataformas de apostas vai demorar seis meses após a data da publicação para ser implementado.


Enquanto isso, se o comportamento se repetir, cerca de R$ 20 bilhões dos cofres públicos, destinados supostamente ao combate à fome do Brasil, irão parar nos bolsos dos donos das bets que, ao que tudo indica, já estão ricos o suficiente.

Crescimento pandêmico, prejuízo para todos

Em 2021, cerca de 20 plataformas estavam autorizadas a operar no país, já em abril de 2024, o número subiu para 217, um crescimento de 734%.


Em contrapartida, um levantamento do DataSenado, feito em junho de 2024, revelou que 42% dos brasileiros que apostaram nas bets estavam inadimplentes, com contas atrasadas há mais de 90 dias, o que gera negativação do CPF nos órgãos de proteção ao crédito, além da incidência de juros que elevam o valor das dívidas diariamente.

Outro perfil de apostador, representando um a cada três, estava fora da força de trabalho (não trabalham nem buscam ocupação) ou desocupados (não trabalham, mas buscam ocupação). Pessoas de menor renda – até dois salários-mínimos – são as que mais gastam em apostas (52%), seguidas por apostadores com renda entre dois e seis salários-mínimos (35%) e acima de seis salários-mínimos (13%).

A economia nacional também é afetada negativamente, pois enquanto os gastos em apostas sobem a cada mês, a perda líquida chegou aos R$ 23,9 bilhões em apenas 12 meses (julho/23 a junho/24), segundo estudo do banco Itaú. De acordo com a Confederação Nacional do Comércio (CNC), os mais de R$ 68 bilhões gastos em apostas representam 0,62% do Produto Interno Bruto (PIB), sendo 0,95% do consumo total e 1,92% da massa salarial brasileira. O crescente gasto com as bets fez a projeção de crescimento do setor varejista baixar de 2,2% para 2,1%, considerando o desempenho dos seis primeiros meses deste ano.

Diante desses dados, vemos que a pandemia de apostas online representa perda para todos: para o contribuinte, para a economia e, principalmente, para os mais pobres, numa clara transferência de dinheiro das classes mais baixas para empresas bilionárias que operam sem regulação adequada e sem representar qualquer ganho para o país.

Essa é mais uma prova de que o problema do brasileiro não é a falta de dinheiro, mas sim, a falta de conhecimento sobre o que fazer com o dinheiro. Porém, para um povo que acha caro um livro de R$ 30, mas gasta o triplo tentando “ficar rico”, o empobrecimento é líquido e certo.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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