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Testemunha da História
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Nilton Travesso: muitas histórias e alegrias

Diretor trabalhou 21 anos na Record, de 1953 a 1974.

Testemunha da História|por Gilson Silveira


Nilton Travesso
Nilton Travesso

"Eu entrei na Record em 1953, quando comecei a fazer um curso para trabalhar na emissora. Ali começamos a aprender direção de TV, luz, som, câmera, montagem de câmera, alinhamento. O curso era intensivo, de 12 a 14 horas por dia, aprendendo tudo, uma loucura.

Comecei a me identificar mais com direção de TV. Passei também a produzir programas e a escrever. Nessa época, a direção artística foi assumida pelo Raul Duarte. Acabei me aproximando dele e mostrando os meus projetos. Chegou uma época em que eu tinha 17 programas por semana.

Depois comecei a fazer teatro. Manoel Carlos adaptava e escrevia e eu dirigia. Tive grandes mestres, como Ziembinski, que me deu grandes aulas sobre como dirigir atores. O viés musical da Record se deve muito ao interesse que os profissionais da emissora tinham por música. Eu mesmo batalhei muito por musicais; Paulinho Machado de Carvalho, também. Ele trazia as grandes temporadas. Na primeira vinda do Charles Aznavour para o Brasil havia 15 pessoas na platéia porque ninguém sabia quem ele era.

NIlton Travesso.
NIlton Travesso.

Fizemos programas muito bacanas, como La Revue Chique, lançado por Lívio Rangam, que era vice-presidente de marketing da Rhodia. Era feito por manequins que ele estava lançando. A Mila Moreira foi lançada nesse programa. Ismael Guise fazia a coreografia. Foi a primeira abertura em desenho animado criada para a televisão brasileira. Era um trem chique, todo em desenho, como se fosse um Orient Express, mas em animação. Tive ainda uma oportunidade muito grande de fazer o primeiro talk show da TV brasileira: Silveira Sampaio Show, que foi um grande teatrólogo, grande autor e ator de teatro, médico pediatra e um grande apresentador. Foi ele quem descobriu Jô Soares e o lançou como comediante. Eu me lembro do Jô e eu tentando salvar um transmissor que pesava pelo menos 120 quilos durante um dos incêndios da Record. Incêndio, aliás, que ficou marcado como ato de terrorismo. No Teatro Paramount viam-se as pessoas correndo pelo telhado. Antes do incêndio havia 1.200 crianças num programa que estava sendo feito pela Cidinha Campos. O fogo, no entanto, só começou depois que todas as crianças saíram.

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NIlton Travesso.
NIlton Travesso.

Tenho também lembranças emocionantes, como ter trazido, direto da Africa do Sul, o doutor Barnard depois de ele ter feito o primeiro transplante de coração da história. O público o aplaudiu no palco durante dez minutos E ao vivo, até os erros viravam história. Naquela época, não tínhamos como 'paginar' com o horário certo.

A televisão atrasava muito. Eu fazia um programa do Dorival Caymmi patrocinado pela Tintas Facilit. A programação estava atrasada e nós na loucura de montar vários cenários, cuidar de comercial... O Durval de Souza, também diretor de estúdio, dizia: 'Caymmi disse que não vai perder o trem, hein!' E eu dizia: 'Manda ele segurar, pô'. Eles voltavam de trem para o Rio de Janeiro às 11 da noite. Até que começou o programa: 'TV Record apresenta...' Em seguida, os slides: 'Dorival Caymmi, patrocínio Facilit'. Ao fundo, a música: 'é doce morrer no mar...' Depois disso, fui para o estúdio e pedi: 'Vai Durval, entra Caymmi, entra Caymmi'. Nada. Caymmi já tinha ido embora há tempos. Aí nós entramos com: 'TV Record apresentou... Dorival Caymmi'.

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Foram muitas histórias e alegrias Fiquei 21 anos na Record, até 1974. Uma vida."

(Depoimento publicado no livro Record 50 Anos. De Pedro Yves, Mirela Tavares e Gilson Silveira. Ed. Referência. 2003)

No próximo post:Para falar de esportes nada melhor que uma 'Mesa Redonda'.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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