Tem que ter o sete sim senhor!
Diz a lenda que o fundador da Record fazia questão de ter o número 7 em seu novo negócio.
Testemunha da História|por Gilson Silveira
Contavam os amigos mais próximos que o fundador da TV Record, Paulo Machado de Carvalho, era aficionado pelo número 7. A numerologia ainda nem era conhecida, mas para ele tudo tinha que ter o número. Uma espécie de amuleto de sorte.
Se a emissora seria sintonizada pelo canal 7, o número teria que estar na data da fundação. Paulo Machado levava tão a sério esta fé cabalística que guardava em sua carteira cédulas de 5 a 1000 Cruzeiros, todas com final 7, e jamais gastou.
Da mesma forma, as placas dos carros de suas empresas, sem exceção, terminavam com o número 7.
Não foi diferente para escolher a data da inauguração do canal 7 de São Paulo: 7 de setembro, que além de feriado nacional tinha o número preferido que ele queria. Mas os planos não foram bem-sucedidos. Alguns aparelhos importados não chegaram a tempo. Então a solução foi adiar 20 dias, até que tudo o que fosse necessário para a inauguração estivesse instalado.
Pronto! 27 de setembro de 1953, a estreia da TV Record Canal 7! Ufa!!!! Porém, naquela noite de festa, certamente, segundo estudos da época, não passavam de algumas centenas de telespectadores que testemunharam o nascimento da segunda emissora de televisão do Brasil. Com cerca de 3 milhões de habitantes, São Paulo havia ultrapassado há menos de uma década o Rio de Janeiro, então a capital federal, como a maior metrópole brasileira.
Não era para menos: em 1953, um televisor custava três vezes o preço da mais sofisticada radiola da época e pouco menos do que um carro zero-quilômetro.
A primeira indústria nacional a produzir aparelhos de TV, a Invictus, já começara a funcionar num conjunto de galpões na Rua da Consolação, próximo ao centro da capital paulista. A saída dos caminhões transportando os aparelhos atraía populares à porta da fábrica. Movimento que acontecia porque a televisão, no início dos anos 50, era uma curiosidade tecnológica acessível a poucos.
Três anos antes, no dia 18 de setembro de 1950, quando o todo-poderoso dono dos Diários Associados, Assis Chateaubriand, inaugurou no bairro do Sumaré, também em São Paulo, a TV Tupi, a primeira emissora do Brasil e da América Latina, havia apenas 400 aparelhos na cidade.
Todos foram trazidos às pressas do exterior por Chateaubriand, via contrabando, para escapar da morosidade da burocracia aduaneira. Ele só percebeu às vésperas da inauguração que também era necessário haver aparelhos nas casas para que a sua TV pudesse ser assistida. (livro Record 50 Anos, de Pedro Yves, Mirela Tavares e Gilson Silveira, ed. Referência).
Por uma coincidência do destino, Paulo Machado de Carvalho faleceu em um dia 7 (março de 1992) deixando um grande legado ao rádio e a TV brasileiras.
No próximo post:O roteiro da noite de gala
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