Silvio Santos, o maior brasileiro de todos os tempos
Os feitos de Santos Dumont, Pelé e Ayrton Senna, juntos, não se equiparam ao que Silvio Santos fez por este país
Este sábado, 17 de agosto de 2024, é um dos poucos dias em que podemos dizer que, de fato, o Brasil inteiro está em luto. Entre mais de 200 milhões, não há sequer um brasileiro – talvez à exceção dos que ainda são bebês – que não conheça ou tenha sido influenciado por aquele que, não me resta dúvida, foi o maior de nós, brasileiros.
Senor Abravanel, o nosso querido Silvio Santos, é o maior retrato do que é este país. A origem humilde, o trabalho como camelô, o radialista talentoso e o empreendedor arrojado, características marcantes de um batalhador que venceu a pobreza e nos compartilhou todos seus ensinamentos durante décadas. Sem dúvidas ele sempre será o apresentador mais carismático, influente e inovador da história da TV brasileira – quiçá, do mundo.
Silvio Santos fez algo que nenhum outro brasileiro conseguiu. Ele se comunicou – e de forma brilhante – com o povo por mais de seis décadas, sem nunca perder a essência, a humildade e a alegria, que ele estampava no rosto e fazia questão de compartilhar com todos nós por horas e horas por incontáveis domingos.
Entre os brasileiros, Santos Dumont foi o maior inventor. Pelé, o maior atleta. Ayrton Senna, o herói das manhãs de domingo. Mas, mesmo reunindo os feitos de todos eles, ainda assim não é possível equiparar ao que Silvio Santos nos legou.
O apresentador, que nasceu 20 anos antes de a TV comercial chegar ao Brasil, tratou a telinha como se um tivesse sido feito para o outro. A irreverência como apresentador, a ousadia para pôr quadros inusitados no ar e a perspicácia para se comunicador durante décadas com todas as gerações, de crianças a idosos, ainda não revelam tudo o que Silvio foi para este País.
Por anos, Silvio colocou no ar programas com finalidade social, como o Teleton, e encheu o seu auditório com pessoas moradoras de comunidades carentes, cujo translado até os estúdios do SBT ele fazia questão de fretar. Se até pouco tempo atrás a TV aberta era acusada de ser conservadora, isso nada tem a ver com Silvio Santos. Seu programa sempre contou com participações de gays, lésbicas, travestis e transexuais – e em nenhum momento Silvio usou isso como artifício de marketing pessoal.
Quando fez 93 anos, em dezembro do ano passado, Silvio disse que se sentia sortudo por receber o carinho de tanta gente. Posso dizer que também fui sortudo. Tive a honra de encontrá-lo duas vezes. Na primeira vez, em frente ao salão do Jassa, seu cabeleireiro, me concedeu uma entrevista exclusiva, tratando a mim, até então um repórter em seus primeiros anos de TV, com cordialidade e simpatia. Mal ele sabia que aquela entrevista mudaria a minha carreira.
No nosso segundo encontro, que ocorreu na frente da casa dele, no dia do casamento de uma de suas filhas, me recebeu com carinho e atenção como se eu também fosse convidado da cerimônia. O Brasil em que Silvio Santos se tornou um ícone não existe mais. E isso porque ele, com sua genialidade em frente às câmeras e humildade que só os gigantes sabem preservar, ajudou a construir um País muito melhor.
O corpo de Senor Abravanel receberá as honras fúnebres como ele queria, de forma discreta e em cerimônia reservada para familiares e amigos próximos. Silvio Santos viverá para sempre no degrau mais alto da história brasileira e nos corações de todos que amam televisão.
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