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Testemunha da História

O famoso teleteatro ganha espaço na programação

O teatro tinha um amplo espaço na programação das primeiras emissoras de TV e conquistava o público

Testemunha da História|por Gilson Silveira

Nos corredores do prédio da avenida Miruna era comum encontrar com o diretor polonês Ziembinski, com a atriz Cleide Yáconis e com os atores Walmor Chagas e Adolfo Celli, entre outros famosos dos palcos na época, além dos próprios Manoel Carlos e Cacilda Becker, que emprestavam o nome deles aos programas.

Cena do programa 'Teatro Cacilda Becker', um dos maiores sucessos exibidos pela Record na década de 1950
Cena do programa 'Teatro Cacilda Becker', um dos maiores sucessos exibidos pela Record na década de 1950

O fato de as aulas de direção artística incluírem noções de representação e a maneira como Nilton Travesso chegou à Record revelam outra influência marcante para a TV: o teatro. Antes de chegar à Record, Travesso era figurante no Teatro Municipal de São Paulo, onde também estudava canto. O seu gosto pelo palco foi impulsionado na Record pela convivência com grandes atores e diretores contratados para levar ao ar clássicos da dramaturgia, em programas cujos títulos já diziam tudo: Teatro Cacilda Becker, Teatro Manoel Carlos e O Grande Teatro Philco 3D.

A teledramaturgia da Record surgiu para fazer frente ao sucesso do Grande Teatro de Vanguarda, da TV Tupi. O espaço generoso dado ao teatro na programação das TVs era justificado pela preocupação de atender ao gosto sofisticado da elite que dispunha de dinheiro para ter televisores em casa. Mas o principal motivo era mesmo a pobreza de recursos técnicos. Como os programas tinham de ser ao vivo, as falas, obrigatoriamente, eram decoradas ou, quando o acaso exigisse, improvisadas. Ninguém melhor do que um ator para desempenhar essa função.

Contar com atores talentosos e experientes não impedia, no entanto, as gafes. Um dos macetes usados pelos diretores quando algo errado acontecia ao vivo, como um ator esquecer o texto, era mandar subir a música e abrir o talkback (caixa de som para comunicação entre o diretor e o estúdio) para falar com os atores.


Nilton Travesso
Nilton Travesso

Certa ocasião, quando dirigia a peça A Dama das Camélias, Nilton Travesso percebeu que algo estranho estava acontecendo com Cacilda Becker. Em determinado momento, ela dirigiu-se ao janelão do cenário, de costas, fugindo ao script.

Parecia chorar fora de hora%2C porque faltava bastante tempo para a cena em que descobriria estar tuberculosa. Falei%3A ‘Não sei o que está acontecendo%2C Cacilda... Olha%2C atenção%2C quando eu cortar o som do estúdio você segue em frente%2C ok%3F'

(Nilton Travesso)

Foi só aí que percebeu que o choro, na verdade, era uma crise de riso. Tudo porque uma das mais famosas atrizes brasileiras de todos os tempos perdera o controle da bexiga e um fio de xixi escorria pela perna dela.

No próximo post: Um depoimento de Nilton Travesso.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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