O famoso teleteatro ganha espaço na programação
O teatro tinha um amplo espaço na programação das primeiras emissoras de TV e conquistava o público
Testemunha da História|por Gilson Silveira
Nos corredores do prédio da avenida Miruna era comum encontrar com o diretor polonês Ziembinski, com a atriz Cleide Yáconis e com os atores Walmor Chagas e Adolfo Celli, entre outros famosos dos palcos na época, além dos próprios Manoel Carlos e Cacilda Becker, que emprestavam o nome deles aos programas.
O fato de as aulas de direção artística incluírem noções de representação e a maneira como Nilton Travesso chegou à Record revelam outra influência marcante para a TV: o teatro. Antes de chegar à Record, Travesso era figurante no Teatro Municipal de São Paulo, onde também estudava canto. O seu gosto pelo palco foi impulsionado na Record pela convivência com grandes atores e diretores contratados para levar ao ar clássicos da dramaturgia, em programas cujos títulos já diziam tudo: Teatro Cacilda Becker, Teatro Manoel Carlos e O Grande Teatro Philco 3D.
A teledramaturgia da Record surgiu para fazer frente ao sucesso do Grande Teatro de Vanguarda, da TV Tupi. O espaço generoso dado ao teatro na programação das TVs era justificado pela preocupação de atender ao gosto sofisticado da elite que dispunha de dinheiro para ter televisores em casa. Mas o principal motivo era mesmo a pobreza de recursos técnicos. Como os programas tinham de ser ao vivo, as falas, obrigatoriamente, eram decoradas ou, quando o acaso exigisse, improvisadas. Ninguém melhor do que um ator para desempenhar essa função.
Contar com atores talentosos e experientes não impedia, no entanto, as gafes. Um dos macetes usados pelos diretores quando algo errado acontecia ao vivo, como um ator esquecer o texto, era mandar subir a música e abrir o talkback (caixa de som para comunicação entre o diretor e o estúdio) para falar com os atores.
Certa ocasião, quando dirigia a peça A Dama das Camélias, Nilton Travesso percebeu que algo estranho estava acontecendo com Cacilda Becker. Em determinado momento, ela dirigiu-se ao janelão do cenário, de costas, fugindo ao script.
Parecia chorar fora de hora%2C porque faltava bastante tempo para a cena em que descobriria estar tuberculosa. Falei%3A ‘Não sei o que está acontecendo%2C Cacilda... Olha%2C atenção%2C quando eu cortar o som do estúdio você segue em frente%2C ok%3F'
Foi só aí que percebeu que o choro, na verdade, era uma crise de riso. Tudo porque uma das mais famosas atrizes brasileiras de todos os tempos perdera o controle da bexiga e um fio de xixi escorria pela perna dela.
No próximo post: Um depoimento de Nilton Travesso.
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